" - O senhor é um perfeito desastre como pessoa, sabia?
- Vou-me habituando à ideia.
- Se quiser que eu fique, as regras, aqui, vão ter de mudar.
- Sou todo ouvidos.
- Acabou-se o despotismo iluminado. A partir de hoje esta casa é uma democracia.
- Liberdade, igualdade e fraternidade.
- Cuidado com isso da fraternidade. Mas acabou-se o quero, posso e mando e as atitudezinhas à Mister Rochester.
- Como queira, Miss Eyre.
- E não tenha ilusões, porque não vou casar consigo nem que fique cego.
Estendi-lhe a mão para selar o nosso pacto. Ela apertou-a, hesitante, e a seguir abraçou-me. Deixei-me envolver pelos seus braços e apoiei o rosto no seu cabelo. O seu contacto era paz e boas-vindas, a luz de vida de uma rapariga de dezasete anos que queria crer fosse semelhante ao abraço que a minha mãe nunca tivera tempo de me dar.
- Amigos? - murmurei.
- Até que a morte nos separe."
Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo