Tuesday 19 September 2017

Devaneios

"O poeta é um fingidor.
Finge tao completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente"

Fernando Pessoa

A carruagem estava vazia e por isso escolhi o meu lugar preferido à janela, ligeiramente aquecida e iluminada por uns timidos raios de sol. Aos primeiros solavancos, deixei o pensamento voar solto e inevitavelmente voltei aos acontecimentos dos ultimos 2 meses. Uma vez mais, questionei-me: como foi possivel?! E de repente veio-me à memória os primeiros versos de um poema de Fernando Pessoa .. De tanto criar uma ilusão, de tanto fingir e repetir, acabei sem me dar conta acreditando profundamente numa mentira, enganando-me sobretudo a mim mesma e colocando toda a minha energia e esperança numa causa da qual sabia à partida, ser impossivel sair vencedora. Dizem que a diferença entre ficção e realidade é... que a ficção tem de fazer sentido. E o choque da realidade nao poderia ter sido mais brutal.
Sinto-me a sair de um longo caminho percorrido e a finalmente deixar o torpor dos ultimos meses para trás. Quero delinear um novo percurso, novos objectivos. E novamente perdida em devaneios, dei por mim a recordar as palavras de um outro conhecido poeta português :

"Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
— Sei que não vou por aí."

José Régio

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