Wednesday, 2 March 2011

Monday, 14 February 2011

All I Ask Of You



" Say you'll share with me one love, one lifetime...
  Say the word and I will follow you...
  Share each day with me, each night, each morning...
  Anywhere you go let me go too...
  Love me, that's all I ask of you..."

Wednesday, 2 February 2011

Séries

Estreou ontem um novo canal de televisão, o Sky Atlantic, dando a oportunidade de ver ou rever algumas das melhores series dos ultimos tempos:  ER, Boardwalk Empire, 24, Blue Bloods, só para nomear algumas. Somando estas, às restantes series que já acompanho diariamente: Good Wife, Brothers & Sisters, Wild at Heart, Criminal Minds, Bones, etc... agora é que não me levanto mais do sofá!! :)

Monday, 31 January 2011

Venha o próximo!


Janeiro foi um mês Morrinhento (muita morrinha e lennnnto).
Valeu-nos os fins de semana cheios e animados, em familia ou com amigos, novos destinos e desafios gastronómicos (a máquina do pão tem sido um sucesso!) e boas comédias (Date Night, Grown Ups, etc) para dar alguma cor aos dias frios, escuros e deprimentes que se fizeram sentir.
Ainda este mês rendi-me definitivamente à escrita de Carlos Ruiz Zafon com a "A Sombra do Vento". 
Após a desilusão de termos visto um dos seus shows cancelado, podemos dizer que valeu bem a espera e passo a citar: "The Imperial Ice Stars are to skating what Cirque du Soleil is to circus: inspiring, original and great theatre." Sem dúvida!
Fazendo justiça ao velho ditado português "O que não se faz em dia de Santa Luzia, faz-se ao outro dia...", teve recentemente lugar o Jantar de Natal, adiado devido aos nevões de Dezembro. Tal como esperado, nada de especial a salientar.
As manhãs começam já a clarear, e hoje finalmente o sol saiu à rua.

Wednesday, 26 January 2011


Portobello Road, Londres.
Posted by Picasa

Monday, 17 January 2011

Em 2011, eu quero...

  • Ir 1 vez por mês a um espectáculo, concerto, ou musical...
Swan Lake on Ice - The Imperials Ice Stars

E este será o de Janeiro!

Thursday, 13 January 2011

Saudades da Vida

Uma ocasião uma jornalista perguntou a Vinicius de Morais se tinha medo da morte.

O poeta respondeu com um sorriso:

- Não, minha filha. Tenho saudades da vida.



De tempos a tempos esta frase de Vinicius regressa-me à ideia. Penso: de que terei saudades, eu? Maça-me morrer porque se fica defunto muito tempo. Estou certo que o meu pai anda chateadíssimo no cemitério, sem livros, sem música, sem oportunidades para ser desagradável. O meu avô, tão diferente do filho, já deve ter feito montes de amigos por lá, todos a comerem percebes à volta de uma mesa grande. E o meu tio Eloy joga às cartas com os outros, a sorrir de satisfação quando lhe saem naipes bons. Costumava inchar na cadeira, a olhar para eles, repetindo

- Muito bem, senhores oficiais

da mesma maneira que, se as coisas corriam mal, se lamentava

- Há muitos anos que sou beleguim e nunca vi uma coisa assim


e vejo-o daqui, sem uma prega, elegantíssimo. A minha tia Madalena lê livros grossos, a minha tia Bia ensina piano e eu sinto medo de não haver papel, nem caneta, nem amigos, nem mulheres. Mas, voltando a Vinicius de Morais, de que terei saudades? De acordar de manhã, no verão, rodeado de cheiros que zumbem? Do mar em Vila Praia de Âncora? Dos cães ferrugentos de Colares e dos seus olhos lamentosos? Da Beira Alta? Da Beira Alta sem dúvida, e do juiz que se gabava de parar o pensamento. Dos gatos que ao fecharem os olhos cessam de existir e se transformam em almofadas de sofá? Da minha filha Isabel ao levá-la a um museu para lhe encher de amor pela beleza os tenros neurónios:

- Estás a gostar?

- Acho um bocado aborrecente

e não tive coragem de dizer que também acho os museus um bocado aborrecentes. Não ligava muito aos quadros, ou antes não ligava um pito aos quadros mas, na época de eu criança, havia escarradores cromados, a cada dez telas, que me interessavam muitíssimo. O problema é que nunca soube cuspir em condições. Ainda hoje não sei cuspir decentemente e, não estou a brincar, envergonho-me disso. No transporte para o liceu sempre admirei os cavalheiros que tiravam um lenço muito bem dobrado da algibeira, o abriam numa lentidão preciosa, puxavam a alma dos pulmões, depositavam-na no lenço num gorgolejo de ralo, competente, profundo, examinavam a alma com satisfação, tornavam a dobrar o lenço e faziam o resto do trajecto com ela nas calças. Talvez seja por isso que nem lenço uso: quando me acho fungoso luto comigo mesmo para não limpar o nariz na manga: a maior parte das vezes consigo. Vou ter saudades daqueles que se assoam com dignidade e estrondo e dos outros, mais comuns, detentores de um poder de síntese que, desgraçadamente, me falta. Passa uma rapariga e eles, logo

- És muita boa

numa concisão admirável, a acotevelarem um sócio distraído

- Viste?

O sócio já só apanha a rapariga ao longe mas concorda por solidariedade

- Chega o verão e descascam-se logo

e o do poder de síntese remata

- Todas umas putas

que é um ponto final que não admite acrescentos, ei-las catalogadas em definitivo, de modo que se passa aos méritos da cerveja preta que, além de acabar com a sede, é óptima para tirar nódoas, seja na camisa, seja no estômago

- Até limpam as úlceras

limpam as úlceras e amortecem o presunto:

- Se as pessoas mamassem uma preta a meio da tarde ninguém adoecia.


Segue-se a inspecção da sola do sapato

- Olha-me para a porcaria deste buraco aqui

e um discurso acerca das fragilidades e misérias do cabedal. Terei saudades disto? Do senhor da mercearia ao pé de mim vou ter de certeza. Está sempre sozinho na loja, atrás do balcão, educadíssimo. Se lhe comprar um maço de cigarros e disser

- Obrigado

responde de imediato

- Obrigado somos nós

num tom papal, que me leva a imaginá-lo cercado de criaturas invisíveis para mim mas óbvias para ele, uma multidão de espectros sobre os quais reina com benevolência. Tem sobrancelhas grossíssimas que não vão inteiramente com os seus gestos fidalgos. Nunca vi ninguém entrar na mercearia a não ser eu. Mentira: uma ocasião estava lá uma velhota que comprou dois pêssegos, a contar o dinheiro como se estivesse a despedir-se para sempre de um filho único. Lembro-me que fitou as moedas, até elas se sumirem na gaveta, numa ternura que me rasgou ao meio o coração. Depois sumiu-se numa portinha ao lado, com uma pantufa no pé esquerdo e uma bota no direito. O degrau da portinha levou-lhe um quarto de hora a escalar. O senhor da mercearia, esquecido do

- Obrigado somos nós

abriu-me os horizontes

- É a dona Esperança que já foi muito rica.

Foi muito rica e agora um pêssego, uma sopinha talvez, os restos da riqueza no prego. Terei saudades disto, também? Para citar a Isabel a vida, de tempos a tempos, é aborrecente. Será que, há séculos, a dona Esperança muito boa? Será que o marido cuspia em condições? É pouco provável porque o marido, segundo o senhor da mercearia, doutor.

- Doutor de tribunais

especificou ele com admiração

- Doutor de tribunais

escutei eu já na rua. Penso que se o meu tio Eloy visse aquilo comentava

- Há muitos anos que sou beleguim e nunca vi uma coisa assim.

Eu também não, tio, eu também não. E, já agora, quando Vinicius de Morais se referia a saudades da vida em que vida pensava?"



António Lobo Antunes,  Revista Visão